Contos.

I wonder if someday I'll be good with goodbyes...

terça-feira, abril 27, 2010

Acordar e não ter um motivo para sorrir.
Andar na rua e ver que não importa para onde você está indo já que o seu rumo não é aquele que você queria seguir.
Escutar músicas e só conseguir lembrar de um passado que, dolorosamente, não vai se repetir.
Escrever palavras que só te fazem lembrar o quão triste você está agora.
Escutar os outros falando que, se você está pra baixo e não acha uma saída pros seus problemas, a culpa é exclusivamente sua; mas ter consciência que não é bem assim.
Achar que tudo e todos estão contra você.
Não conseguir achar graça em mais nada.
Ver casais felizes e desejar com todas as forças que você pudesse estar disfrutando daquilo também.
Cansar de tudo e jurar que nunca mais vai se render a um amor.
Querer sumir, não fazer nada e não falar com ninguém por pelo menos um mês.
É, é assim que eu estou me sentindo agora.

Contos.

What is the matter with you?

domingo, abril 18, 2010

Um chá. Era disso que ela precisava. Aquilo iria funcionar e ela ficaria mais calma. Aquilo a faria dormir. Camomila, talvez? É, essa foi a sua escolha. Colocou a água para ferver, e logo em seguida buscou por sua caneca favorita; ela não sabia porquê, mas usá-la trazia a ela um pouco de conforto, como se fosse um dos aspectos existentes no seu imaginário mundo perfeito. O saquinho pequeno de ervas já repousava dentro do recipiente, e ela, encostada ao balcão da pia, ouvia o chiar da água no fogão. Esperou mais um instante e retirou a chaleira de lá, depositando o conteúdo na caneca e sentindo o aroma reconfortante adentrando-lhe as narinas. Um pouco de açúcar e estava pronto. Dirigiu-se com a bebida até seu quarto, sentando-se na cama em seguida. Encostada em uma das paredes, ela pensava no passado mais uma vez. Aliás, quando ela havia deixado de pensar, afinal? Em qual momento do seu dia - de todos os seus dias - ela não pensava em tudo o que estava torturando-a silenciosamente? Era uma ferida exposta. Qualquer um podia ver, se olhasse com atenção; mas ela mesma preferia esconder. "Está tudo bem. Eu já esqueci." Desculpas. Meras desculpas. Ela sempre soube que palavras poderiam machucar mais do que ações. Ela sempre soube que a ausência dele a faria perder um pedaço de si mesma toda vez que ela se desse conta de que ele não estava mais alí; nem por ela, nem por eles. Mas ela preferiu acreditar que tudo seria diferente, que a dor nunca mais voltaria e que ela poderia confiar nele novamente. "E se ele fizer de novo? E se ele sumir? E se ele não voltar?". Não fazia sentido. Ele não iria embora de novo... não é? Mais um engano. Como ela poderia acreditar agora, ferida interna e tão profundamente que já não sentia-se por parte viva, que ele nunca fizera nem faria nada para magoá-la?

- Por que você está me dizendo isso? Qual é o seu problema? - Ela tentava pronunciar as palavras calmamente, mas o quanto mais tentava, mais impossível parecia conseguir ter controle por suas ações.
- Qual é o meu problema? Você é a errada! Não me acuse! Eu já disse o quanto você consegue me irritar com esse tipo de coisa? Com esse tipo de atitude? - Ele, de fato, parecia um pouco mais concentrado que ela. Mas só aparentemente. Em algum canto de seu peito, doía-lhe como mil facadas estar dizendo aquelas palavras, estar brigando com ela. Mais uma vez.
- Mas eu não fiz nada! Você sabe disso! Eu não posso acreditar que você esteja fazendo isso outra vez! - Jogando as mãos para cima, sem saber muito bem o que fazer, ela encarava o garoto a sua frente olhá-la com os olhos intensos e expressivos. Ele podia não demonstrar, mas ela sabia lê-lo. Ela via o quão perturbado ele também estava. Porém, ele permaneceu em silêncio. - Sabe o que ME irrita? Essa sua desconfiança em mim, mesmo depois de tudo o que eu fiz, depois de tudo que teria que te fazer pensar o contrário do que está pensando agora! Eu já te provei o suficiente de tudo, você não vê? - Colocando uma parte do cabelo atrás da orelha, ela sentiu seus olhos ficarem marejados sem nem ao menos ter chance de contê-los. Ela estava perdida; seu mundo estava caindo mais uma vez e ela simplesmente não tinha onde se segurar.
- Quer saber? Eu vou embora. - Mantendo ainda a mesma expressão no rosto, ele se virou lentamente para sair do cômodo, seguindo em direção a porta. Seus passos eram curtos, como se ele tivesse que exercer a maior força do mundo para mover seus pés para fora dalí.
- O que? Você não pode! Fique aqui! Aonde você pensa que vai? - Ela correu até onde ele estava e segurou-lhe o braço, sem pensar muito bem no que havia acabado de fazer. Ela não podia se prender ao orgulho; ela não conseguia. Ela só precisava que ele permanecesse alí. Ele virou um pouco de seu corpo na direção da menina, que esperava com um olhar ansioso por uma resposta.
- Eu... tenho que ir. - E com um último olhar e a cabeça baixa, ele virou-se novamente e conseguiu seguir seu trajeto inicial, cruzando a porta e sumindo da visão da menina, que havia ficado estática no lugar onde ele, segundos atrás, havia estado.
- Não vá... não me deixe aqui sozinha. - Um último sussuro saiu por seus lábios, enquanto uma lágrima solitária descia por sua face gelada. Ela sentiu os pedaços de seu coração partindo-se, tornando-se afiados e arranhando todo o seu interior, causando-lhe uma dor conhecida, porém esquecida durante um bom tempo.


Ele havia ido embora. Novamente. Ela não tinha mais esperanças. Ou talvez até tivesse... mas preferia não acreditar. Preferia sofrer calada, como havia fazendo há alguns meses. Ela tentava não lembrar, tentava não pensar, mas nem sempre era fácil. Em noites como aquela, somente o tal chá poderia fazer com que o cansaço vencesse a sua mente e as suas memórias e a fizesse dormir uma noite inteira. Eram tantas perguntas... todas sem respostas. Porque ele não estava mais alí para lhe responder. Terminou de tomar sua bebida, deixando a caneca no criado-mudo ao seu lado e deitando-se calmamente na cama, embrenhando-se no confortável edredom verde de flores que ela tanto gostava. Com um suspiro profundo, ela fechou os olhos e tentou deixar sua mente assumir uma figura negra, livre de pensamentos ou qualquer coisa que a perturbasse. Mas ela sabia que quando acordasse, tudo retornaria com a mesma intensidade. E depois de alguns minutos, a inconsciência tomou seu lugar, levando-a para uma atmosfera mais agradável, sem visíveis incômodos.
E se ele não voltar?

Contos.

Nothing really matters.

domingo, abril 18, 2010

Ainda eram 7:30 da manhã, mas o relógio no criado-mudo acabara de despertar, exageradamente barulhento, como eu sempre achei que ele era. Virei-me para o lado contrário e então meus lábios quase rasgaram meu rosto com um sorriso; ele estava alí, ainda adormecido e com a respiração calma. Queria poder acariciar-lhe o rosto, mas o medo de lhe tirar daquele estado confortável era terrível demais. E então, inexplicavelmente um pequeno sorriso surgiu no canto de seus lábios.
- Você está fazendo de novo, amor. - Ouvi sua voz rouca dizer-me aquelas palavras já tão conhecidas. Eu ainda me surpreendia com a minha própria surpresa ao ouvi-las.
- Me desculpe. Eu só não consigo evitar. - Eu ainda o olhava quando ele abriu os olhos, mostrando-me aquela imensidão sem fim, totalmente hipnotizante que sempre fazia com que eu perdesse o meu foco.
- O que tem de tão interessante em ficar me olhando dormir? - Ele apoiou o cotovelo sobre o travesseiro, e na mão postou sua cabeça, numa perfeita pose engraçada de quem não podia entender o meu ponto de vista. E mesmo com o cabelo totalmente bagunçado e a cara de sono exibindo olheiras fracas, ele ainda me parecia lindo.
- Olhar você dormir já é um costume para mim, meu bem. - Olhei-o ternamente, acostumando-me mais uma vez ao fato de que aquele ser perante mim era inteiramente meu e com o tamanho da minha sorte por isso. - Ver você ao meu lado todas as manhãs é sempre a primeira coisa boa de todos os meus dias. Como posso evitar olhar-te quando isso me faz esquecer de todas as coisas ruins? - Os olhos dele, agora um pouco mais intensos, analisaram meu rosto cuidadosamente, exibindo um tipo de brilho diferente após alguns segundos.
- Você... nunca tinha me dito isso. - Com cuidado, colocou uma de suas mãos sob o meu rosto e acariciou minha bochecha, como se eu fosse frágil demais para tal toque. - Se te faz feliz, posso ficar aqui o dia inteiro com você. Só acho que você vai cansar de me olhar.
- Eu tenho plena certeza de que isso é impossível. - Acariciei-lhe toda a extensão da face, desde a raiz dos cabelos, passando pelos olhos e bochechas, boca e queixo, enquanto ele fechava os olhos para sentir o toque da pele fria de meus dedos contra seu rosto. Eu morreria feliz depois de ver o sorriso que ele estampava. - Eu amo você.
- Eu sei... - Quando abriu os olhos, aproximou-se lentamente de mim e selou nossos lábios, mas somente por um instante. - Eu amo você. - Seu olhar era sério e penetrante, e acredito que o meu era um perfeito reflexo. Eu não podia fazer mais nada do que sorrir, embora.
- E então... ainda temos aquele bolo de chocolate para o café. - O ouvi gargalhar gostosamente após o que eu havia dito, e não pude evitar rir junto. - Eu sei o quanto você gosta daquela cobertura!
- É claro! Sua cobertura de chocolate é a melhor do mundo! - E com um salto, saímos os dois da cama, atravessando a porta do quarto e seguindo rumo à cozinha, onde daria-se seguimento a mais um dia que havia iniciado-se do jeito que eu mais gostava... ao lado dele.


E então o despertador ao meu lado tocou, e eu percebi que tudo não havia passado de um sonho. Outra vez.

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